O Conselheiro e o Remador

29/08/05

Era uma vez dois amigos que foram criados desde a infância juntos.

Aprenderam a engatinhar, nadavam no rio, brincavam e faziam tudo que todos os meninos gostam de fazer juntos.

Com o passar do tempo foram se distanciando, como acontece com todos os bons amigos ao saírem para a vida. O primeiro conseguiu descobrir o prazer em aprender. Assim, investia boa parte do seu tempo nessa atividade.

Nos estudos e em tudo que fazia se determinava a aprender.

Fixava-se em seu propósito, fazendo primeiro o que era preciso e depois no que queria. O segundo resolveu que não era preciso dedicar-se com tanto cuidado. Na escola passava, mas estudava pouco. Obedecia sempre sua voz interior, fazendo primeiro o que queria e, depois no pouco tempo que lhe sobrava o que realmente era preciso. Certo dia o reinado abriu concurso para prestadores de serviços do rei.

Os dois amigos passaram. A sorte maior apareceu para o primeiro. Foi contratado como conselheiro do rei. Já o segundo conseguiu serviço como remador no navio da realeza.

Um dia o rei e seus conselheiros embarcaram para uma viagem no mar.
Falavam de negócios enquanto aproveitavam a brisa que soprava do mar. Enquanto isto, mais próximo da popa, os remadores suavam para fazer o navio seguir adiante.

O remador vendo seu amigo de infância bem à vontade em companhia do rei.

Ficou abalado e quanto mais pensava, mais furioso ficava. Ao anoitecer, já cansado de tanto remar não se conteve e começou a resmungar para outro amigo remador:

– Olhe aqueles inúteis. Intitulam-se conselheiros estratégicos, mas ficam à toa, jogando conversa fora. Por que é que temos que suar tanto para levar o navio deles adiante? Isto não é justo! Afinal, não somos filhos de Deus?"

Ao ancorarem o navio para pernoitar. O remador foi acordado no meio da noite, por uma mão que lhe sacudia. Era o rei em pessoa e pediu:

– Há um barulho esquisito vindo daquela direção, apontando para a terra. Não consigo dormir, imaginando o que seja. Por favor, vá e descubra o que é.

O remador pulou do navio e subiu para o alto de um morro. Voltou pouco depois com a informação:

– Não é nada, Vossa Majestade. São alguns lenhadores cortando árvores, por isso tanto barulho na floresta.

– Remador, quanto lenhadores são?

O remador não tinha se dado ao trabalho de olhar com mais cuidado. Pulou do navio. Nadou até a praia. Correu morro acima. Voltou.

– Vinte e um, Vossa Majestade.

– Remador, que tipo de árvore é?

Ele esqueceu de reparar. Lá voltou e retornou:

– Pinheiros, Vossa Majestade.

– Remador, por que estão cortando as árvores?

Lá foi ele de novo.

– Para vender, Vossa Majestade.

– Remador, quem é o dono das árvores?

De novo ele teve que voltar.

– Disseram que é um homem muito rico, Vossa Majestade.

– Remador, obrigado. Agora venha comigo, por favor.

Os dois, o rei e o remador, foram até a proa do navio e o rei acordou o amigo de infância do remador.

– Conselheiro, há um barulho esquisito vindo daquela direção, apontou para a terra. Não consigo dormir, imaginando o que seja. Por favor, vá e descubra o que é.

O Conselheiro desapareceu rumo a terra e voltou pouco depois.

– É uma equipe de lenhadores, Vossa Majestade.

– Conselheiro, quantos são?

– Vinte e um, Majestade.

– Conselheiro, que tipo de árvore é?

– São pinheiros, Majestade. Excelentes para construir casas.

– Conselheiro, por que estão cortando as árvores?

– Para negociar, Majestade. O reflorestamento de pinheiros é do prefeito do vilarejo. Ele realiza o corte a cada dois anos. O corte é autorizado, me mostrou o ofício. Ele pede desculpas pelo barulho e convida a Vossa Majestade para o café da manhã, que será preparado especialmente para recebê-lo, Majestade.

O rei olhou para o remador:

– Remador, ouvi seus resmungos. Sim, todos nós somos filhos de Deus. Mas todos os filhos de Deus têm seu trabalho para executar. Precisei mandá-lo 4 vezes à terra para obter respostas. Meu conselheiro foi uma vez só. E é por isso que ele é meu conselheiro estratégico, e você fica com os remos do navio.